IA e a arte de responder a tudo: os riscos de confiar cegamente nas máquinas
No LOBA SUMMIT’25, na mesa-redonda dedicada ao tema Creativity Empowered by Technology, decidi pôr à prova os limites da criatividade e da credibilidade da IA. Numa iniciativa espontânea, acabei por expor uma faceta curiosa (e preocupante) das IAs generativas: elas respondem a tudo, mesmo quando não deviam.
Enquanto decorria a conversa com André Rabanea, fundador da Torke CC, e com os colaboradores da LOBA - Manuel Pinhão (Web Business Director), Emídio Vidal (Chief Design Officer) e José Pedro Vieira (Branding Business Director) - abri o ChatGPT e desafiei-o a criar uma imagem de um “brotonlinho”, uma palavra totalmente inventada por mim, sem qualquer significado. A intenção era perceber como a IA reagiria a algo completamente desconhecido.
Para meu espanto, e sem qualquer hesitação, o ChatGPT gerou uma personagem com aspeto de brócolo. Não fez nenhuma pergunta de verificação. Nenhuma resposta do tipo “isso não existe”. Apenas uma sugestão convincente para algo que nunca foi real.
Este momento levou-me a uma reflexão importante, que partilhei com os participantes: As IAs começam a comportar-se como algumas pessoas — respondem a tudo, mesmo quando não sabem, sem questionar a validade ou a origem do que dizem.
"Viajar na maionese": os perigos de uma IA que nunca diz "não sei"
Com uma vasta experiência internacional em criatividade e inovação, André Rabanea trouxe contribuições valiosas sobre como as agências devem equilibrar o uso da IA com o pensamento crítico humano. Afinal, se a máquina é capaz de inventar um “brotonlinho” do nada, o que mais poderá criar ou distorcer sem nos apercebermos?
José Pedro Vieira destacou que a criatividade nasce da experiência humana, da coragem para arriscar e da persistência. Emídio Vidal reforçou que a IA pode ser uma grande aliada na eficiência, mas é o ser humano que acrescenta o verdadeiro valor criativo, sendo essencial evitar a preguiça criativa e apostar mais na colaboração e na comunicação. Por sua vez, Manuel Pinhão refletiu sobre o poder multiplicador da tecnologia, que tanto pode amplificar más ideias como transformar as boas em algo extraordinário, reforçando a importância do pensamento crítico.
Alguns riscos tornaram-se evidentes:
- Desinformação e alucinações: a IA não distingue o real do imaginário. Se lhe perguntarmos algo absurdo, pode gerar uma resposta plausível, mas totalmente falsa;
- Falsa autoridade: devido à forma confiante como comunica, muitos acabam por aceitar as suas respostas como verdades absolutas, mesmo quando são invenções;
- Falta de análise crítica: ao contrário de um ser humano, que pode admitir "não sei" ou pedir mais contexto, a IA avança com respostas mesmo sem certezas.
Como usar IA sem cair nas armadilhas da imaginação artificial?
Apesar do enorme potencial criativo da IA, os participantes concordaram: o pensamento crítico humano é insubstituível. Algumas boas práticas destacadas incluem:
- Verificar sempre as fontes: se a IA inventa algo, é fundamental validar a informação;
- Usar a IA como ferramenta, não como oráculo: pode ser uma excelente aliada para estimular ideias, mas não substitui a análise humana;
- Capacitar as equipas para questionar: os profissionais devem ser capazes de reconhecer quando uma resposta faz sentido e quando é apenas uma “viagem na maionese”.
Conclusão: criatividade com responsabilidade
O caso do meu "brotonlinho" mostrou que, apesar dos avanços, é essencial mantermos a consciência dos limites da IA.
Todos os oradores foram unânimes e reforçaram a importância da criatividade humana no universo da comunicação, que continua a ser o que mais nos distingue. Porque, ao contrário da máquina, nós sabemos quando estamos a inventar.